Há 3 semanas observo uma relação tão bonita e rara de ser vista.
Todo dia quando chego na enfermaria pelas 8h da manhã, ela já está ali do lado dele.
Cada fio de cabelo que já é escasso na cabeça dele penteado com muito zelo por ela. As unhas cortadas.
Quando a gente chega, ela dá um sorriso largo.
Estão investigando câncer pra ele.
Ela já sabe.
Disfarçadamente, ela pergunta algumas dúvidas sem ele perceber e o tranquiliza.
Conversando com ela, percebi que todo dia de manhã cedo ela pega duas conduções. Traz roupa limpa e lençol lavado.
Limpa a cama com álcool, leva ele pro banho e fica ao lado cuidando.
Quando aconteceu dele vomitar, ela buscou rapidamente um pano limpo de suas trouxinhas, molhou um pouquinho em água limpa e encostou pela nuca, pela testa.
Depois do vômito, buscou outro pano, secou e limpou o rosto.
Todo imprevisto que acontece, quando acaba, ela olha para ele e diz:
- Pronto, passou. Estou aqui.
Até a noite, quando volta pra casa.
Por outro lado, ela ganha um sorriso pálido mesmo sentindo dores, sem conseguir se alimentar e vomitando.
Um carinho de uma mão já magrinha e um olhar de confiança.
Mesmo sem falar e com dificuldades de andar, ele tenta se levantar, faz força, tenta ajudar para não ficar pesado a ela.
Ver os dois caminhando em direção ao banheiro para mais um banho do dia me fez refletir que ter um companheiro assim exige cuidados. Amar é cuidar.
Assistir uma cena dessa me faz crer que a humanidade não está tão perdida.
São 48 anos de casados e não perderam a alegria de viver um amor.